Paranapiacaba - Pedalando na chuva


Num domingo de tempo bem nublado vou com meu amigo Elcio de bike, a partir do centro de Santo André até Paranapiacaba.

Condições Iniciais
O transito estava tranquilo, o clima estava bem tranquilo, fresco, as nuvens tampavam o sol, a brisa estava boa, não tinha forte vento contra. O ritmo ia ótimo.

Imprevistos
Uns 15, 20km após a saida, em Ribeirão Pires há um problema na transmissão da bike do Elcio. Então saimos um pouco da rota e fomos até um posto, onde em 30 min. conseguimos fazer uma gambiarra e arrumar a transmissão do cambio trazeiro. Pois não funcionando adequadamente, preso numa marcha, o desempenho cairia absurdamente.

A Chuva Chega
No final de Ribeirão, já em Rio Grande da Serra começa a cair uns pingos; e tudo indicava que pegaríamos chuva no caminho. Porém contínuamos, ambos dispostos a se molhar. Isso, com algo em torno de 1h40min. pedalando.

A decisão de continuar
Num determinado momento chegamos na bifurcação, para a esquerda, poderiamos acessar a Indio Tibiriça andar mais alguns quilômetros e acessar a Anchieta e então voltar para casa. Ou então, pegar a direita e pedalar até Paranapiacaba. Alguns segundos e então decidimos continuar. O ritmo estava bom e ambos com vontade de ir mais longe.

A chuva fica mais forte
Após passar por Rio Grande da Serra, já próximo a divisa com Santo André novamente, a chuva aperta. Fica intensa. Porém, continuamos perfeitamente. Até que começa o trecho que é só asfalto, e mato do lado. No caminho havia vários desmoronamentos pequenos; alguns suficiente para soterrar um carro, nas encostas. E diante daquela chuva, o vento que em alguns trechos chegava a encomodar, apenas dosava o grau de aventura.

A busca por água
Engraçado, mas dessa vez ninguem pensou em levar água. Já estávamos quase 3 horas pedalando sem beber um gole de água; pelo menos a chuva amenisava a coisa. Até que então chegamos num clube, entramos nele, num momento bem forte da chuva. E damos uma pausa para beber água da torneira mesmo. Enquanto decidimos se continuaríamos ou voltaríamos. Porém, a vila não parecia estar longe, mas provavelmente mais uns 20, 30min e estaríamos lá. Ainda faltavam algo em torno de 10km.

A coisa complica
De fato, faltavam uns 10km. Porém, haviam muitos morros, e se fizéssemos uma derivada desse geral, teríamos uma tragetória ascendente, estavamos sempre subindo aos poucos. E a chuva forte. Nossas roupas bem molhadas, e o corpo tendo que gastar muita energia para gerar calor para manter a temperatura. Além disso, os tennis ficam bem pesados, cheios de água, não próprios para chuva; fazendo que aumento o esforço sobre as pernas em cada pedalada. E inevitavelmente o ritmo cai, principalmente do Elcio, mas para não sumir na frente dele, também diminuo o meu, mas quanto mais devagar ficava, parecia que mais o corpo "enferrujava" (é o termo que parece), pois de fato, eu não estava cansado; mas parecia enferrujado.

O ritmo caiu bastante, de modo, que a marcha dominante passou a ser a coroa do meio e o quarto na catraca. De repente, num trecho de uma longa reta plana, que passavam por um tipo de area pantanosa, um raio cai a menos de 80m diria eu; forte, fazendo um estrondo e impactanto, que literalmente, cada célula do corpo e toda a bicicleta tremeu. Foi tamanho, que foi suficiente para darmos uma parada e olhar um para um outro e fazer algum comentário sinistro sobre tal. Mas continuamos.

5 km
Pouco tempo depois avistamos "Paranapiacaba a 5km". Porém, o ritmo caiu tanto, pareciamos enfraquecidos de certo modo, não vendo a hora de chegar. A velocidade média (sem medidor algum) devia estar em torno de 8 - 10km/h. E nisso, a idéia começou a mudar para "querer chegar logo em casa". Passamos a pensar em pegar onibus, se eles não deixassem ir de bike, então talvez, podiamos esconde-las no mato, acorrentá-las, e semana que vem voltassemos para pegar. Mas continuamos, demoramos quase 40min. para fazer esses últimos 5km. Com direito a fazer a última subida a pé, pois o Elcio não aguentava.

Parabapiacaba
Foram os últimos 5km mais longos que me recordo da minha vida. Porém finalmente chegamos. E a chuva não parava. Quando paramos na cidade um outro problema veio: "Frio". Eu comecei a ficar com muito frio, o corpo começou a tremer, principalmente as mãos. E eu sabia que se não esquentasse isso levaria a hipotermia, minhas forças ficariam muito baixas. E a volta seria muito ruim. Em menos de 5 min. a cidade foi tomada por uma nuvem que não permitia ver nada a mais além de 7m. Paramos para comer um lanche; após 4horas pedalando, nossos corpos precisavam de energia; ainda mais molhados e perdendo calor.

Aproveitamos para ver com o motorista se topava nos levar com as nossas bikes até Rio Grande da Serra, onde poderíamos pegar o trem. Mas ele não permitiu.

Voltando - Uma luta contra a hipotermia
Então, de volta para a estrada. Estava com muito frio mesmo, nem tanto no sentido de passando mal, ruim; mas sim com os braços tremendo muito. Faço algumas flexões e poli-chinelos, para dar uma esquentada, uma alongada... e ai pedalando. A primeira descida foi dureza, o vento da velocidade alta mais esfriava. Então ao invés de relaxar na descida, mandei a ver nas pernas, e também joguei o peso do corpo sobre os braços no guidão, para assim esforça-los para esquentar os braços. E aí foi indo. Melhorou um pouco mas ainda continuava. O braço melhorou, mas comecei a sentir frio no pé; e frio no pé é um péssimo sinal.

Não fiquei nada apavorada, já passei por outras experiências de frio, do tipo, em acampamentos, cachoeiras e trilhas; e sempre que voltava a atividade fisica era questão de tempo até o corpo esquentar. Mas no inicio foi duro, porque o corpo esfriou, ai que enferrujou de vez. Mas foi esquentando. Até que numa subida, com os pés frios, e vendo que estava indo muito lerdo, decido subir correndo empurrando a bike. Isso tanto aliviou a musculatura da perna que estava muito só num tipo de movimento; como praticamente esquentou os pés e todo o resto e não tive mais problemas com frio, e o corpo desenferrujou. O Elcio também seguiu a idéia, mas não está acostumado a correr, então logo desistiu. Mas praticamente, a partir daí esquentamos.

Em pouco tempo, passamos a placa dos "5km". A volta estava bem mais rápida. E em torno de 25min. passamos pelo clube onde bebemos água. E mais uns 15min. chegamos em Rio Grande da Serra. E então tomamos o trem. Ambos bem molhados.

No trem
Foi o momento de relaxar. O consolo por praticamente estar em casa. Tive uma leve preocupação que no trem esfriaria de novo, e o ar me faria tremer de vez; mas foi tranquilo até. Foi quando deu para pensar um pouco em tudo que passamos. E em 20 min. chegamos em Santo André. E aí, mais 10km de pedalada até em casa, para mim.

Pós
Por incrivel que pareça, não fiquei nem um pouco cansado. Como sempre, a chuva, ou melhor, a  água fria, de algum modo tem um efeito revigorador sobre os músculos; de modo que nem mesmo produziu dor muscular alguma (aliás, algo que faz tempo que não tenho). Foi tudo como se apenas tivesse dado mais uma volta por ai.

Dados:
Percurso total: 75 km (s/ contar trem)
Tempo ida: 3h40m
Tempo volta: 1h (s/ contar trem = 20min)
Velocidade média: 15,78 km/h
Gastos: Misto quente = R$ 2,00; Trem = R$ 2,55; Total = R$ 4,55
1 Response
  1. Anônimo Says:

    Gostei do relato e das fotos. Quando for de bicicleta fazer um passeio, vamos juntos... também sou de Santo André - SP... contato: www.bikeclic.blogspot.com